Quando eu era pequena minha mãe era costureira. Quando cresci, minha mãe tornou-se artesã. Na adolescência achava o título de artesã mais bonito e de certa forma não era um erro chama-la assim. Afinal de contas Dona Terezinha sempre teve “mil e uma utilidades”! Entre o tear, as costuras, bordados, tricôs e crochês ela era a minha mãe. Só faltou mesmo mexer com tintas. Mas claro que algo deveria ficar por minha conta.
* Como qualquer moça do interior freqüentei (de livre e espontânea “vontade”) aulas de pintura.
** Frutas para pano de prato e flores para jogos de cozinha ou banheiro.
*** Era um tédio!
Para minha mãe passar o tempo praticando uma atividade artesanal é algo digno (ou em outras palavras: - que vale a pena). Nunca me atrevi a perguntar, mas acredito que ela tenha caído nessa profissão de pára-quedas. Uma atividade que aprendeu quando era moça (da mesma forma em que eu aprendi a pintar) e que se viu “obrigada” a exercer para sobreviver.
* Mas ao contrario dela, provavelmente, passarei fome se tiver que viver das pinturas...
Convivendo com o barulho diário da máquina de costura ela deu roupa, comida, casa e estudos para os seus três filhos (entre eles, eu – que sempre odiei pintar). A atividade repetitiva rendeu também uma artrose na coluna cervical. Que por sua vez paralisou os seus braços. Minha mãe agora é uma artesã sem sua principal ferramenta.
* Os meus pincéis continuam guardados dentro de uma caixa de sapato que fica em cima do guarda-roupa.
** No mesmo local tem tinta velha e seca.
*** (além da minha indiferença com a pintura).
Hoje enquanto cresce os netos de Dona Terezinha (os que eu ainda não dei) ela apesar de não ser mais capaz de fazer suas roupas (nem para seus bonecos e bonecas) remenda suas meias... sentada no sofá da sala com o barulho incrível do silêncio.
* E apesar de tudo.
** E entre todas as dificuldades. Ela ainda é minha artesã preferida.
*** Com uma arte única. Feita com suas mãos trêmulas ela é a minha mãe.
**** A que eu sempre quis ter.
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